O Brasil não estaria entre os maiores produtores de grãos, fibras e agroenergia do mundo se não houvesse as aplicações aéreas. Essa é a opinião de Ulisses Antuniassi, engenheiro agrônomo, professor da Unesp de Botucatu e referência na área de aplicação aérea no país.
Em um bate-papo exclusivo, o especialista avalia o atual cenário do setor no Brasil, aponta os diferenciais do trabalho e sinaliza como a tecnologia pode auxiliar o produtor durante a safra.
ReimagineAgro – Como é realizado o trabalho de aplicação aérea no Brasil?
Ulisses Antuniassi – A aplicação aérea é uma das modalidades de aplicação. Existem várias, que vão desde os pulverizadores costais usados nas pequenas propriedades até os grandes pulverizadores autopropelidos, usados em áreas extensas. E é nesse mercado, das grandes áreas, que se encaixa a aplicação aérea.
Qual a importância dessa prática em um país com tamanha vocação para a agricultura?
A aplicação aérea é fundamental para o país, pois é prática indispensável nas grandes áreas de produção, de onde sai uma fração importante do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. O país não estaria entre os maiores produtores de grãos, fibras e agroenergia do mundo se não houvesse as aplicações aéreas. Em algumas culturas ela é indispensável.
Qual a porcentagem de aplicações aéreas realizadas no Brasil? Isso equivale a quantos hectares?
Cerca de 25% da área aplicada anualmente no Brasil é coberta por aplicação aérea. Ou seja, a aviação agrícola responde por cerca de 1/4 das aplicações. Isso equivale a cerca de 70 milhões de hectares aplicados ao ano.
Quais as culturas que mais se utilizam dessa modalidade de aplicação e quais os benefícios?
As principais culturas são: soja, cana, algodão, milho, arroz, laranja, feijão e trigo. O principal benefício é a aplicação rápida e eficaz, aproveitando o melhor momento para o tratamento fitossanitário. Para muitas culturas, aquelas com plantas de maior porte (ex.: cana-de-açúcar e citrus), não há outra opção de aplicação.
Para que seja realizada a aplicação aérea, quais as principais regras a serem seguidas?
Existe um conjunto muito amplo e rigoroso de regras, tanto para a questão do voo, quanto para as questões agronômicas e ambientais. E as aplicações aéreas são hoje certificadas quanto às boas práticas agrícolas, através de um programa de certificação chamado CAS – Certificação Aeroagrícola Sustentável.
Quais os principais problemas enfrentados pelos produtores ao contratar o trabalho de aplicação aérea?
As principais questões estão relacionadas à gestão das aplicações. Falta conhecimento e acesso às informações de gestão, como o planejamento das aplicações e os relatórios com os resultados. Ainda há um caminho longo para que haja perfeita sintonia entre quem contrata a aplicação e quem realiza.
Existem tecnologias que favorecem o desenvolvimento do setor?
O mercado brasileiro está se tornando referência no que se refere à disponibilidade de aplicativos de gestão de aplicação aérea. E a pressão das entidades ambientais e da própria sociedade está elevando o nível de segurança das aplicações. Por esta razão, as principais ferramentas que ajudam a tornar as aplicações melhores e mais seguras estão surgindo do uso da tecnologia de informação (TI).
Como melhorar a qualidade das aplicações?
O principal fator é a integração técnica entre quem contrata as aplicações e quem as realiza. Quando esses dois elos estão atados, há sinergia no sentido da qualidade e da segurança ambiental das aplicações. Portanto, é necessário que haja interação técnica entre as partes.
Existem programas de capacitação e esclarecimentos nesta área, tanto para produtores rurais quanto para pilotos?
O Brasil ainda é carente de programas de extensão e treinamento específicos para o tema. Existe o programa CAS – Certificação Aeroagrícola Sustentável que ajuda muito, mas seria necessário ter muito mais.
#CresceAgro #Entrevista