Agronegócio se destaca no cenário econômico

Responsável por 23% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, a agricultura brasileira tem alcançado altos níveis de produtividade, dando ao país um destaque mundial como produtor de alimentos. O trabalho contribui signi cativamente para o desenvolvimento econômico nacional, mesmo em um período conturbado.

Nos primeiros cinco meses de 2016, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, estimado pelo Cepea, cresceu 1,79% em comparação com o mesmo período de 2015. Já nos dez primeiros meses do ano, a balança comercial brasileira acumulou superávit de US$ 38 bilhões, com participação decisiva dos 15 principais produtos do agronegócio que representaram 39% das vendas totais do país no período. “O setor foi responsável por grande parte de todas as vendas externas brasileiras no período. Uma vez mais, o agronegócio mostra a sua força e o seu valor em meio às dificuldades externas”, diz Marcos Fava Neves, professor da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto (SP).

Ao longo de décadas, o bom resultado econômico transformou-se em indicadores sociais positivos, afinal, quanto maior o poder aquisitivo do brasileiro, maiores os negócios em relação a alimentos, desenvolvimento dos polos agrícolas e regiões adjacentes.

Até por isso, Blairo Maggi, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tem reforçado que o agro é o caminho para superar a crise. “A indústria é importante para o Brasil, mas [o caminho] para nós sairmos da crise com mais rapidez é pela agricultura, pela pecuária, por aquilo que nós podemos duplicar e triplicar em um espaço de tempo muito pequeno”.

Infraestrutura para manter o crescimento

O desafio o é manter e ampliar essa performance, fator que não depende exclusivamente dos produtores. É preciso estrutura para escoar a produção e armazéns de estocagem, assim como outros pilares básicos estruturais.
E as várias demandas não sur- giram por acaso. No Brasil, o investimento em infraestrutura caiu dos 5,4% do PIB nos anos 1970 para taxas próximas de 2,3% desde os anos 1990. Atualmente, especialistas indicam que seriam necessários 3% só para conter a depreciação, além de aproximadamente R$ 1 trilhão em infraestrutura de transportes até 2030 para se equiparar ao padrão de países como Rússia e Austrália. As constatações são de um estudo do núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da Universida- de de São Paulo (USP).

De fato, com somente 4,4% da sua receita agrícola bruta subsidiada em 2014, os brasileiros apresentam o pior índice de apoio dentre aqueles com maior PIB e relevância na produção e comércio de produtos do agronegócio, muito atrás de regiões e países como Norue- ga (58,4%), Japão (49,2%), China (20,2%), União Europeia (18%), Estados Unidos (9,8%) e Rússia (8,9%), de acordo com o índice de Estimativa de Apoio ao Produtor (PSE, em inglês), levantamento feito pela Organização para a Coo- peração e Desenvolvimento Econô- mico (OCDE).
Contudo, para Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), o momento é oportuno para mudar este cenário, levando em consideração a oportunidade que se apresenta no futuro. “Nessa hora de virada, o momento é de ousadia para fazer os reclamados investimentos em infraestrutura que trarão redução de custos para o setor”, disse ele durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado no início do segundo semestre.

Do Brasil para o mundo

Até 2030 o mundo terá 8,5 bilhões de pessoas. Ao menos é o que estima a Organização das Nações Unidas (ONU), que alerta para a necessidade de alimentar toda essa população.

O alto número impressiona e precisa ser incorporado nos mais diversos setores, inclusive no agrone- gócio, uma das esperanças quando o assunto é alimento. Com terra, clima e vocação, o Brasil pode ser o grande protagonista neste cenário.

Sabendo disso e com o objetivo de incrementar a participação do agronegócio brasileiro no mercado global, o governo federal trabalha um programa que prevê ações para promover o setor no exterior e atrair investidores. Ainda em desenvolvimento, o Programa Acesso a Mercados (PAM-Agro) é uma das ações do Ministério da Agricultura que visa aumentar de 7% para 10% a participação do Brasil no mercado internacional nos próximos cinco anos.
Blairo Maggi, que encabeça a iniciativa, espera que o programa ajude o País a atrair investimentos estrangeiros que contribuam para a retomada do crescimento econômico. “A presença do presidente [Michel Temer], determinado a ampliar esses mercados, visitando os países e pedindo apoio dos seus presi- dentes correspondentes para fazer isso, vai ajudar muito a agricultura e a pecuária brasileira”, declarou.

Setor sucroenergético revive

Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Indús- tria de Cana-de-açúcar (Unica), tem experiência su ciente para analisar o momento do setor sucroenergético. Com mais de 30 anos neste segmento, Padua, como é conhecido, sabe da importância da cana-de-açúcar como poucos.

Depois de passar por uma das maiores crises da história, com usinas endividadas, perda da competitividade diante da gasolina e problemas climáticos, os produtores canavieiros tiveram um ano positivo. No embalo dos bons resultados, Padua espera melhoras ainda mais significativas em 2017. “O governo já sinalizou uma nova narrativa de menor intervenção na economia, o que significa um risco menor de controle de preços da gasolina, como aconteceu há alguns anos, gerando um grande endividamento das usinas e um cenário de incerteza para investimento em aumento de capacidade. Para o setor sucroenergético, essa nova postura é importante porque aumenta a competitividade do etanol”.

E a maré parece mesmo ter virado. O déficit mundial de açúcar tende a continuar e o Brasil é o único país capaz de atender essa demanda, mesmo com a redução na oferta devido à vida útil dos canaviais. “A expectativa é de que a próxima safra seja com preços atrativos, o que trará redução do endividamento para muitas empresas. Essa geração de caixa deve ser totalmente investida na própria atividade com a renovação do canavial, de máquinas, implementos e veículos, na busca do aumento da produtividade e redução de custos de produção”, afirma.

De fato, é preciso fazer a lição de casa. É preciso recuperar a confiança do investidor para o setor aumentar sua capacidade de produção, fato que só será possível, segundo ele, com políticas públicas que aumentem a competitividade do etanol e valorizem suas externalidades. “O biocombustível é menos poluente e emite até 90% menos gases de efeito estufa. Essas políticas precisam ser estáveis e previsíveis, só assim será possível atrair a confiança do investidor novamente. O cenário hoje indica crescimento da demanda de ciclo otto até 2030. Porém, sem a expansão da oferta de combustíveis (tanto gasolina como etanol), isso não será possível alcançar”, finaliza.

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